Idiotices

Aquilo que penso e não tenho coragem de dizer em voz alta...

quinta-feira, agosto 10, 2006

# 84

O dia era de primavera, daqueles quentes em que um passeio à praia nos parece uma boa ideia. A única objecção era com a falta de companhia, já que era um dia de semana e toda a gente que conhecia ou estava na escola ou a trabalhar... eram os senãos de ter folgas rotativas... mesmo assim decidi ir sozinha, não me pareceu boa ideia desperdiçar aquele sol de meados de Maio.
Uma camisola de alças, calças desportivas de lycra, chinelos de enfiar no dedo, uma garrafa de água dentro do saco e um livro. Parti rumo ao meu destino. Depois de chegar e de um breve reconhecimento de área, cataloguei os presentes no meu banco de dados mental. Apenas uma jovem que fazia topless e um cota que lutava para apanhar uma côr intensa...tal era o oleado da pele...
Sentei-me junto ao paredão... encostei-me... enrolei as calças até aos joelhos e tirei o livro da mala.
Ainda não tinha virado a página quando senti alguém passar por mim, levantei o olhar e vi um rapaz de cabelo demasiado curto, quase rapado, aparentava pouco mais de 20 anos, bonito, vestido de uma maneira casual, mas cuidada. Retomei a minha leitura. Mas por pouco tempo, segundos depois ele que se tinha sentado a pouco mais de um metro de mim dizia baixinho:
-Queres foder?
É óbvio que demorei um bocado a assimilar a mensagem... olhei para o outro lado a ver se estava por ali mais alguém por perto...nada...era eu e ele... ignorei a mensagem e fiquei a minha vista no livro que já nem conseguia ler... voltou à carga:
-Estás a ouvir? Queres foder?
Nem queria acreditar...era para aquilo que estava destinada a minha folga? Chatear-me com um puto impúbere? Estaria a trabalhar? Sem saber teria escolhido uma praia de engate? Pelo sim pelo não deitei a mão a uma pedra arredondada que não me cabia na palma da mão... teria de ser a minha única arma se tivesse de tomar alguma atitude mais drástica, não respondi a nenhuma das suas perguntas, onde voltava a repetir sempre o mesmo.
Ao fim de uns cinco minutos, que a mim me pareceram uma eternidade, lá se levantou e ao passar por mim quase cuspiu por entre os dentes:
-Puta de merda!
Nunca levantei os olhos do livro, que não lia, nunca cheguei a tirar a mão da pedra, nunca respondi.
Lógico que saí cerca de cinco minutos depois de ele ter saído, ao mesmo tempo que o cota também abandonava o seu lugar em cima da rocha... a idiotice disto é que trazia na mão e até ao carro a pedra que agarrei na praia, vendi o carro uns anos depois...e deixei ir o calhau como oferta... será que o dono se perguntou o que fazia ali aquela pedra de quase dois kilos?