# 94

'-És linda!'

Nunca nenhuma frase tua me tocou tanto o âmago... talvez por imaginar que o disseste porque eu estava a dormir, porque te saiu assim da boca, tarde da noite, quase sussurrado, porque eu estava quase a dormir e o senti como se fosse parte de um sonho...não me mexi, tive medo de apagar a magia que aquelas palavras deixaram no ar. Tive medo de abrir os olhos e não ver nada. Então deixei de respirar por segundos e guardei bem cá dentro as palavras, a forma como foram ditas...a tua mão na minha pele... foi um momento único, inesquecível...

Nunca o esquecerei... viva eu mil anos...

# 93

Quando saber que perfil têm as pessoas que conhecemos? Porque é que quando nos dizem o que acham, não sentimos surpresa nenhuma? Porque já sabiamos que era assim, porque hà muito que apenas dizemos que não sabemos para não complicar as coisas.

Pessoas que andam em continua busca, foi o que ela me disse hoje à mesa enquanto almoçavamos. O tipico perfil de muitos homens que andam por aqui. Depois de aprenderem que podem conseguir muitas coisas, depois de perceberem que são as novidades que lhe dá adrenalina, passam da busca inicial para uma busca impulsiva e continua... dão a desculpa de que ainda não encontraram o que procuram, quando a realidade é que já não procuram nada em concreto, apenas gostam do prazer da conquista, das novas...das inesgotáveis...neste mundo...

Fiquei triste com esta brilhante conclusão...sério que fiquei...

# 92

Não posso falar dos meus planos, até porque quando os partilho é como se os 'enguiça-se', deixam de fazer sentido pouco tempo depois, e acabo por passar a imagem que sou uma fraca sem nunca conseguir fazer nada do que me proponho. Depois perguntam-me do que tenho medo? Como se fosse uma coisa muito dificil. Agora é diferente não é? Já pensei em como vou fazer tudo, as coisas que vou dizer, o sitio onde vou esconder a arma que disparará na altura certa. E tu não sabes de nada...ninguém sabe de nada. Sem saberes vou dar-te mais uma hipótese de me fazeres desistir da ideia que tem tomado forma nestes últimos tempos. É a nossa derradeira hipótese, sabias isso? Tu não sabes nada! Também não sabes que depois desse dia tudo fica sem volta, que gastamos todos os cartuchos a que tinhamos direito.

Não gosto de pensar que depois disso te sentirás aliviado, não gosto mas não o consigo evitar, é uma ideia que me massacra em muito a paz de espirito. Quero achar que não faz sentido depois de todas as vezes em que te dei a hipótese de te afastares. É engraçado como já falas do natal, como se ainda estivessemos juntos por essa altura. Mal tu sabes a 'ratoeira' que te montei...não te quero prender, esta ratoeira servirá com a finalidade de te soltar, deixar-te livre, deixar-me partir a mim , porque neste momento sou eu que me sinto presa a uma coisa que não me deixa respirar...vou fazer-te um teste... não tenhas medo...o resultado das coisas és tu que vais escolher... está nas tuas mãos...para variar, sempre esteve...

# 91

É impressionante como uma música velha que já não ouviamos faz tempo, nos consegue arrastar dentro da carne e até à superficie a lembrança de alguém que agora nos teima em deslizar bem abaixo da pele...incomodando-nos com as sua presença... volta para onde estavas! Não me fazes falta aqui!

# 90

Depois de cinco minutos em que quase não respirava enquanto enumerava tudo o que vou fazer quando me sair o euromilhões, mais logo à noite, ouviu-se uma voz meio irritada:

-Deixa-te de dizer baboseiras...não trabalhes não...

Alguém tomou o meu partido...

-Deixa a miúda sonhar.

# 89

-Então agora aproveitando que estamos a ter uma conversa sincera e aberta...diz lá que opinião tens acerca da minha pessoa...não peço nenhum discurso...

-Ya...

# 88

Querer ser de alguém...não uma posse fisica, apenas um sentimento, sentir-me presa a um pensamento, saber que existo nos sonhos de alguém, que me dispo nos desejos de quem pensa em mim... talvez não fosse assim tão dificil ser ganha... gostar, um gostar a sério... porque eu gosto de gostar, mesmo que de coisas simples...como por exemplo uma torrada pela manhã, um copo de água fresco num dia quente, uma multidão de gente que possa observar, um riso alto de alguém que passa por perto, os telefonemas das pessoas que gostamos, uns pés pequeninos a pressionar a nossa barriga a fazerem força para irem para o chão, o adeus que o meu sobrinho faz, o cheiro de um livro novo, uma cama acabada de fazer, um duche pela manhã, fazer amor...não sexo, fazer amor... andar descalça pela casa, andar de carro com as janelas abertas, sentir o cabelo a voar, rever momentos que guardamos em fotografias, sorrir...sorrir muito, gostar é isto, vem sempre agarrado a um sorriso...

A desilusão é outra coisa... um dia falarei dela...

# 87

É...

são as solas dos pés...deixar que fiquem à vista de alguém é como se tivesse nua...sem defesas...

...não...não gosto...

# 86

Sentem-se sexys em corpos pouco sexys... querem esquecer os anos que já lhes passaram pelas mãos, é como se o agarrassem debaixo dos braços ou o quizessem espezinhar com as solas dos pés.

Cenário triste aquele, onde os corpos poderão ter sido frescos e atraentes...mas em outras alturas que não estas. Puxam-se para a beira da água, viram-se para quem passa com gritos presos nos olhos: 'Olha para mim!' .

Passamos por lá...sabiamos o que iamos ver...mas deixamo-nos levar pelas passadas de um passeio...mais tarde comentaremos os tamanhos...o matagal... as barrigas penduradas que quase tapam os sexos...as mamas que descaiem abaixo do peito mostrando que tudo tem o seu declinio, um aqui e ali que espera não sair sózinho ao final da tarde.

Quase todos os que se mostram sem pudores passaram à muito a casa dos 50... quase todos os que se passeiam à beira da água deixam passar a imagem de quem se está a exibir... na minha mente a imagem de um pavão a abrir o leque...

# 85

-Deixa lá isso!

Fodasse... é demasiado fácil falar para quem não sente nada, não é?

# 84

O dia era de primavera, daqueles quentes em que um passeio à praia nos parece uma boa ideia. A única objecção era com a falta de companhia, já que era um dia de semana e toda a gente que conhecia ou estava na escola ou a trabalhar... eram os senãos de ter folgas rotativas... mesmo assim decidi ir sozinha, não me pareceu boa ideia desperdiçar aquele sol de meados de Maio.

Uma camisola de alças, calças desportivas de lycra, chinelos de enfiar no dedo, uma garrafa de água dentro do saco e um livro. Parti rumo ao meu destino. Depois de chegar e de um breve reconhecimento de área, cataloguei os presentes no meu banco de dados mental. Apenas uma jovem que fazia topless e um cota que lutava para apanhar uma côr intensa...tal era o oleado da pele...

Sentei-me junto ao paredão... encostei-me... enrolei as calças até aos joelhos e tirei o livro da mala.

Ainda não tinha virado a página quando senti alguém passar por mim, levantei o olhar e vi um rapaz de cabelo demasiado curto, quase rapado, aparentava pouco mais de 20 anos, bonito, vestido de uma maneira casual, mas cuidada. Retomei a minha leitura. Mas por pouco tempo, segundos depois ele que se tinha sentado a pouco mais de um metro de mim dizia baixinho:

-Queres foder?

É óbvio que demorei um bocado a assimilar a mensagem... olhei para o outro lado a ver se estava por ali mais alguém por perto...nada...era eu e ele... ignorei a mensagem e fiquei a minha vista no livro que já nem conseguia ler... voltou à carga:

-Estás a ouvir? Queres foder?

Nem queria acreditar...era para aquilo que estava destinada a minha folga? Chatear-me com um puto impúbere? Estaria a trabalhar? Sem saber teria escolhido uma praia de engate? Pelo sim pelo não deitei a mão a uma pedra arredondada que não me cabia na palma da mão... teria de ser a minha única arma se tivesse de tomar alguma atitude mais drástica, não respondi a nenhuma das suas perguntas, onde voltava a repetir sempre o mesmo.

Ao fim de uns cinco minutos, que a mim me pareceram uma eternidade, lá se levantou e ao passar por mim quase cuspiu por entre os dentes:

-Puta de merda!

Nunca levantei os olhos do livro, que não lia, nunca cheguei a tirar a mão da pedra, nunca respondi.

Lógico que saí cerca de cinco minutos depois de ele ter saído, ao mesmo tempo que o cota também abandonava o seu lugar em cima da rocha... a idiotice disto é que trazia na mão e até ao carro a pedra que agarrei na praia, vendi o carro uns anos depois...e deixei ir o calhau como oferta... será que o dono se perguntou o que fazia ali aquela pedra de quase dois kilos?

# 83

Não seria a mulher certa para ti! Não seria a mulher certa para ninguém! Ilustro a frase batida 'Deus escreve certo por linhas tortas'.

Não estaria em casa à tua espera... seria a última a chegar! Não cozinharia as refeições, esperaria que tu o fizesses e arrumava a cozinha no fim. Não te cerziria as meias... comprava pares de substituição. Não me subjugaria ao que dizias...faria valer o meu ponto de vista. Não me chegaria apenas o teu amor...queria também a paixão. Não ficaria silenciosa e queda à espera do teu desejo por mim... tomaria a rédea da iniciativa. Não aceitaria o mundano e tradicional... acenderia todas as luzes para te ver nu e de sombras projectadas na parede.

E querido...se quizesses ficar mesmo comigo... terias de aprender a não dizer que não ao inusitado...

# 82

Ontem enquanto me passeava pelos corredores de um hipermercado dei por mim a fazer um exercicio de lógica... enquanto me debruçava sobre o móvel do peixe congelado...

Do outro lado do corredor estava um espécimen masculino, aparentava rondar a mesma idade que eu...trintas e tais...estava indeciso na escolha do pacote das batatas em palitos... escolhi o meu peixinho...e dei discretamente a volta ao móvel...queria ver o que ele levava no cesto. Voilá...era mesmo aquilo que imaginava...um homem que vivia sozinho...quem sabe um tímido, ou então um engatatão...mas tudo o que ele ali levava denunciava a sua independência... uma embalagem de ovos, latas de atum e conservas variadas, umas quantas embalagens de refeições congeladas... e umas quantas paletes de cerveja...nada mais esclarecedor.

Satisfeita com o meu raio X decidi partir em busca de novas experiências, andei a espreitar para os cestos alheios de quem por ali andava sozinho... ops...uma embalagem de pensos higiénicos... aquele tinha gaja lá em casa... mais à frente...hummm não percebia muito bem.... fruta fresca, alguns vegetais, poderia estar perante um solitário que tinha cuidado com a alimentação...iogurtes, nestum... de repente pára no corredor das fraldas e vai buscar um pacotão...está visto... família lá em casa...

A verdade é que acabei por demorar mais tempo que o previsto nas compras, que nem eram muitas... idiotices...pois então...

# 81

-O problema somos nós... deveriamos ser mais espertas, saber ir aos sitios certos para escolher!

-Como assim? Escolher onde?

-Amigas...os bons homens...aqueles que valem mesmo a pena não se encontram nos sitios que costumamos frequentar... deveriamos procurá-los antes em bibliotecas e igrejas ao Domingo de manhã...

Ninguém me levou a sério...mas só pelas gargalhadas que se ouviram valeu a pena dizer este disparate...

# 80

Sempre afirmei 'Não gosto de dormir nua!', não porque já o tivesse experimentado, simplesmente porque sempre achei que assim era o que eu o acharia. Claro que mais uma vez depois de o ter feito tenho de voltar atrás na minha afirmação e dizer 'Sim! Gosto de dormir nua, pelos menos nestes dias de calor!'. Soube-me bem e tenho a certeza que o voltarei a fazer... até digo mais...tenho a certeza que hoje o farei...depois deste calor que já se faz sentir...cheira-me que esta noite vai estar uma brasa dentro de casa...

# 79

Claro que decoro datas...xiça! Sou mulher! Preciso de dizer mais alguma coisa? Ainda digo mais! Além de as decorar, lembro-me delas todas as semanas... que diria a senhora da papelaria se soubesse que ao registar o meu euromilhões estava perante dias importantes para mim como por exemplo o dia do mês em que me veio o periodo pela primeira vez ou até mesmo o dia em que começei a namorar com o meu grande amor, o dia em que deixei de o fazer, o dia em que o voltei a fazer...o dia em que tornei a deixar de o fazer...o dia em que perdi a minha virgindade... ok...sei que faço uma data de apostas só para conseguir que nenhuma data fique de fora...nem mesmo a do meu aniversário...idiotices, pois então...

# 78

Para quê esperar pelo fim do verão? Para fazer parte da estatistica? Vamos mas é resolver tudo já!

# 77

Nunca conseguiria escrever a história da minha vida... torna-se dificil juntar todos os apontamentos que vou fazendo ao longo dos dias... os rascunhos acumulam-se à bem mais que um par de anos... e depois... depois não me parecia bem mostrar os meus cantos mais obscuros a quem tanto me quer bem...quero que continuem a pensar que criaram a mais pura das filhas, que nunca disse palavrões ou que me envolvi em histórias menos claras. Não quero que quem me conheça saiba as vezes que cortei os pulsos , em vão, por banais histórias de amor em que não fui bem sucedida. Nem no número de filhos que perdi por não me julgar a melhor das mães. O que me pode fazer de bem saber que descobriram as vezes em que perdi os sentidos por excessos cometidos ou das viagens que sempre jurei nunca ter feito? O que interessa o que faço? Importará por onde ando? Deixo que continuem a achar que tenho uma vida vulgar, onde o tempo é curto para estar em todo o lado ao mesmo tempo... mais tarde justificarei a pele alimentada pelo sol que denuncia a liberdade de andar ao ar livre... solta...

# 76

As ideias idiotas já não são de agora...(de estranhar que fossem) antes...em pequena (sim pequena...devia rondar os 80/90 cm), nessas alturas achava que era estúpido em como ainda não tinham resolvido o problema das tempestades no deserto...se acimentassem todo o deserto, a areia nunca sairia lá debaixo...depois era só puxar a luz e a água...e fazer cidades... qual problema ecológico qual quê...

...hummm estou a precisar de férias...